Estranho, ilógico e condescendente como todo amor. Mas é amor.

Uma das coisas que mais me intrigam na noção de “cultura” é que muitas vezes ela é mais uma performance do que uma essência, um modo de vida.

Em Manaus, sempre que há um vídeo ou outro material promocional da cidade, fazemos questão de mostrar a floresta, a fauna, os prédios da Belle Époque, a herança indígena e a culinária. É a nossa performance.

Mas se buscarmos o dia-a-dia do amazonense de Classe Média, é facilmente perceptível a aversão generalizada ao rio, ao mato, ao Centro histórico, ao ser caboclo e ao jaraqui com farinha.

Gostamos do nosso pacote cultural como performance, mas recusamos ele como mode de vida.

Em determinado momento da minha vida, eu mesmo tive que me despir de todos os meus preconceitos e encarar a cidade de frente.

Tive que me deixar apaixonar por uma cidade muito menos empacotada que aquela que se via no comercial pra turistas.

Uma cidade onde os igarapés são valas de esgoto, castanheiras centenárias são cortadas para fazer um estacionamento, prédios do centro histórico seriam removidos pra dar lugar a um monotrilho ineficaz, índios urbanos têm vergonha de assumir suas origens e uma banda de tambaqui assado custa uma média de R$ 50,00.

E o pior é que tem alguma coisa no coração desse caos que aperta o meu toda vez que eu me afasto.

Sempre digo que Manaus é amor não correspondido, mas é amor. Estranho, ilógico e condescendente como todo amor. Mas é amor.

Por: Felipe Libório, acadêmico do curso de Jornalismo